O ‘Tio Manolo’ chegou ao Acampamento Terra do Sol (ATS) em 1995, a convite do Tio Dumas, que na época tinha a mesma responsabilidade de coordenador que eu tenho hoje. Esse convite chegou durante um período pessoal desafiador, e o Dumas me sugeriu: ‘Por que não vem pescar aqui na Valkilândia? Temos um lago’ . A Valkilandia foi a sede do ATS entre 1988 e 2007, em São José dos Campos. Decidi aceitar o convite. Ao chegar, encontrei um acampamento em plena temporada, repleto de crianças e atividades. Fui apresentado ao Toninho, nos cumprimentamos e logo peguei minha vara de pesca para aproveitar o lago. Enquanto pescava, observei a energia contagiante da garotada correndo pelo local. Aquela atmosfera me revitalizou. Almocei e jantei com a equipe, e naquele mesmo dia percebi que queria fazer parte daquela coisa mágica.
Os Primeiros Passos como Monitor
Tive oportunidade de servir ao Exército, durante minha juventude, ao que devo muito da minha formação. Lá aprendi a cooperar e ter disciplina, características que me ajudaram muito na vida. Quando me propuseram elaborar uma atividade, tinha mil ideias na cabeça. Propus no fim de criar uma ‘pista do Rambo’ – uma pista de obstáculos para as crianças. A atividade foi um sucesso. Naquele momento eu havia passado no teste e recebi o convite para me tornar monitor. Assim, iniciei minha jornada no ATS, aprendendo na prática com colegas como Walter, Angela, Gordo e Carlão. Não tinha experiência prévia com acampamentos, mas mergulhei de cabeça, observando e absorvendo cada detalhe. Após a primeira experiência naquela semana, voltei para casa, mas senti um vazio. Liguei para o Toninho e pedi para retornar. Fiquei mais uma semana participando de todas as atividades, até ser oficialmente integrado à equipe.
Crescimento e Família no ATS
“De monitor, tornei-me coordenador de atividades dos grupos mais jovens em 1998. Foi nessa época que conheci a Gabriele, indicada para reforçar nossa equipe. Trabalhamos juntos durante toda a temporada de julho daquele ano, e nosso relacionamento floresceu. Hoje, ela é minha esposa e mãe de nossos dois filhos, que também seguem o legado do ATS. Minha filha, Manu, já atua na programação do acampamento, e meu filho, ao completar 18 anos, se tornará monitor. É uma honra ver minha família fazendo parte dessa tradição.”

Compromisso e Legado
“Nos últimos 30 anos, dediquei-me a criar jogos e dinâmicas que fortalecem o espírito do ATS. Trabalhei lado a lado com o Tio Walter, trazendo inspiração dos escoteiros, e preservamos atividades históricas idealizadas pelo Toninho, Dumas e Gordo e muitas atividades ainda do tempo do Cláudio Peralta, que fundou o ATS lá nos anos 1950. Tenho uma pasta repleta de atividades de todas as eras do acampamento – um tesouro que mantém viva nossa essência. O ATS mudou minha vida: encontrei propósito, família e uma comunidade que chamo de minha. Sou grato eternamente pela oportunidade, e retribuo vestindo a camisa do acampamento com orgulho. Faço tudo pelo ATS, assim como ele fez – e ainda faz – por mim.”
A importância da brincadeira na vida
A importância da brincadeira na minha vida remonta à infância. Desde criança, sempre fui muito brincalhão, adorava fazer piadas, divertir-me e interagir com os amigos. Cresci em uma época em que as brincadeiras ao ar livre eram parte essencial do cotidiano. Hoje, vejo que as crianças têm menos oportunidades, seja por questões de segurança, mudanças sociais ou pela falta de envolvimento dos pais. Na minha infância, até os 12 anos, passava horas na rua brincando de pega-pega, esconde-esconde e outras atividades que marcaram minha geração.
Essa paixão pelas brincadeiras permaneceu na vida adulta. Sempre gostei de interagir com crianças, inclusive com os filhos dos meus amigos. Como sou pai mais velho, essa conexão se tornou ainda mais significativa. Quando conheci o acampamento, identifiquei-me imediatamente com o ambiente lúdico. Foi uma oportunidade de resgatar brincadeiras da minha infância e compartilhá-las com os jovens. O acampamento valoriza atividades como corrida, pega-pega e esconde-esconde, o que reacendeu meu lado criança e me permitiu reviver momentos especiais.
Além disso, o acampamento tornou-se um contraponto ao meu trabalho. Sou restaurador de antiguidades, uma profissão que exige concentração e dedicação quase ininterruptas, de segunda a domingo. Aos domingos, reservo um tempo para descansar, mas a rotina é intensa. Por isso, nos períodos de férias escolares, em janeiro e julho, quando meus clientes viajam e o trabalho diminui, dedico-me ao acampamento. Lá, reconecto-me com a leveza da infância, o que serve como uma válvula de escape saudável.
Embora hoje o acampamento envolve também responsabilidades como monitoria e organização, mantenho o mesmo espírito brincalhão. Essa dualidade entre a seriedade do trabalho e a alegria das brincadeiras é fundamental para meu equilíbrio. A brincadeira, para mim, não é apenas uma lembrança do passado, mas uma prática que renova minhas energias e me permite inspirar os jovens.
Filosofia e Gratidão
“O Acampamento Terra do Sol está em minha alma e coração. Sou comprometido, apaixonado e eternamente agradecido. Continuarei ao lado do Toninho, mantendo essa chama acesa para as próximas gerações. Afinal, como costumo dizer: ‘O ATS não é um lugar – é um legado’.”
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